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O que a microbiota intestinal tem a ver com sua enxaqueca?

Leia o texto original em inglês aqui

De acordo com a Fundação de Pesquisa em Enxaqueca, 18% das mulheres, 6% dos homens e 10% das crianças nos Estados Unidos apresentam episódios de enxaqueca, resultando em aumento de custos em 70% para as famílias que possuem entes com enxaqueca, quando comparados com famílias que não possuem entes com enxaqueca. 

Estudos observacionais indicam que pessoas com enxaqueca normalmente se queixam de problemas gastrointestinais (GI), e uma grande quantidade de fatores associados à microbiota intestinal foram identificados como contribuintes para os quadros de enxaqueca. Alguns dos mecanismos relacionados à microbiota intestinal e enxaqueca estão descritos abaixo:

Neuroinflamação 

Citocinas pró-inflamatórias foram relacionadas com enxaqueca, e estão aumentadas durante uma crise de enxaqueca. É bem compreendido que o aumento da permeabilidade intestinal resultante da disbiose e de outros fatores podem estimular as respostas inflamatórias e imunológicas através da translocação de polissacarídeos bacterianos.

A microbiota intestinal produz ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs, do inglês short-chain fatty acids) que são responsáveis pela manutenção da integridade da barreira intestinal e por prover propriedades neuroprotetoras. A redução da diversidade da microbiota pode impactar negativamente tanto a função intestinal quanto neurológica. Por exemplo, o ácido graxo de cadeia curta butirato é responsável pela expressão de fatores neurotróficos relacionados com um efeito anti-inflamatório. 

Desequilíbrio de neuropeptídeos

Em quadros de disbiose intestinal, existe um aumento influenciado pela microbiota do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP, do inglês, Calcitonin gene-related peptide), um marcador da enxaqueca, envolvido no aumento do fluxo sanguíneo e liberação de mediadores inflamatórios no cérebro.

O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório no sistema nervoso, e está aumentando no plasma e fluido cérebro espinhal de pacientes com enxaqueca. O glutamato está associado com inflamação do trato GI e estresse oxidativo, e foi associado a uma grande variedade de desordens GI, incluindo síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal e refluxo gastroesofágico.

O neuropeptídeo Y (NPY) que é abundante no cérebro, afeta o fluxo sanguíneo cerebral e está envolvido na regulação da dor. NPY também influencia na função GI, na resposta imunológica e inflamatória, humor e comportamento. Este neuropeptídeo foi detectado ao longo do eixo intestino-microbiota-cérebro e está aumentado em pacientes com enxaqueca.

Serotonina

Bactérias comensais e probióticos podem produzir metabólitos do triptofano, precursor da serotonina. A redução da expressão dos transportadores de serotonina foi associada com alterações microbianas que estimulariam a inflamação. 

Baixa diversidade da microbiota intestinal

Os pacientes que sofrem com enxaqueca apresentam menor diversidade da microbiota GI, principalmente nas espécies produtoras de butirato como o Faecalibacterium prausnitzii. Esses indivíduos também abrigam mais micróbios potencialmente patogênicos, incluindo espécies de Clostridium, Pesquisas recentes também mostraram que as pessoas que sofrem com enxaqueca possuem maior quantidade de interações cérebro-intestino, como a degradação da quinurenina e a síntese de GABA (do inglês, gamma-aminobutyric acid). Em contraste com indivíduos saudáveis que exibem interações metabólicas intestinais funcionais. 

 O papel dos probióticos

Embora os estudos clínicos com humanos sejam limitados, investigações demonstraram o potencial terapêutico dos probióticos na modulação da frequência e severidade das crises de enxaqueca. Os mecanismos de ação incluem o aumento da produção de ácidos graxos de cadeia no intestino (especialmente o butirato), fortalecimento da barreira intestinal para inibir o aumento da permeabilidade e a modulação da inflamação através das vias das citocinas.

Selecionando probióticos com ação direcionada

Para a seleção de uma formulação de probióticos com uma indicação específica como o tratamento da enxaqueca, estudos clínicos bem desenhados e controlados são cruciais para fornecer uma visão sobre a utilidade de diferentes formulações. Isso porque nem todas as cepas demonstraram mecanismos funcionais relevantes. 

Dada a escassez de estudos controlados investigando a intervenção com probióticos na enxaqueca, uma abordagem secundária para a triagem da eficácia são as análises in vitro. Em laboratório podem ser examinados o desempenho das formulações e as cepas que as constituem, incluindo o fortalecimento das barreiras epiteliais e a produção de ácidos graxos de cadeia curta, citocinas e produção de neurotransmissores.

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